sábado, 1 de agosto de 2009

O coletivo transporte

HORÁCIO AUGUSTO FIGUEIRA diz na folha que:
O SISTEMA de ônibus possui uma natureza que o qualifica como meio essencial aos deslocamentos urbanos. A essência da função de transporte exercida pelos ônibus dentro do sistema urbano pode ser comprovada facilmente, raciocinando por absurdo, numa situação de uma cidade hipotética onde só existisse um meio de transporte. Na situação extrema de uma grande cidade em que só circulassem automóveis, seria necessária a existência de uma malha cerrada de vias expressas, trevos e espaços para estacionamento que impediriam a própria existência da cidade. Como escreveu Arthur C. Clarke no livro "Perfil do Futuro", de 1962: "(...) os veículos -exceto os de utilidade pública- não podem por muito tempo ser permitidos em áreas urbanas. Se os carros particulares continuarem a trafegar no interior das cidades, teremos de colocar todos os edifícios sobre pilotis, a fim de que toda a área do terreno seja usada para avenidas e parques de estacionamento, e mesmo isso não resolverá o problema".No entanto, pode-se imaginar uma cidade em que só existam ônibus. Sendo um sistema de média capacidade e de trajetos flexíveis, é possível encontrar um arranjo para os desejos de viagens dos usuários em termos de origem-destino e de conforto em que o sistema urbano não será fundamentalmente diferente do que se conhece e se aceita como sendo uma cidade, sem contar as consideráveis facilidades de adaptação às transformações intraurbanas e à expansão de áreas periféricas. Para transportar 35 pessoas viajando sentadas numa faixa de tráfego, um ônibus convencional ocupa 15 metros. Por sua vez, para transportar as mesmas pessoas em carros, são necessários 25 automóveis (ocupação média de 1,4 pessoa/automóvel e 6 metros/automóvel) e cerca de 150 metros -ou seja, forma-se uma fila de uma quadra e meia. Os usuários do transporte individual impõem à sociedade os maiores dispêndios em energia, investimentos para obras de sistemas viários com eficiência duvidosa, custos dos congestionamentos, poluição do meio ambiente, acidentes de trânsito, doenças respiratórias etc. É preciso criar urgentemente o conceito de "engenharia de transporte de pessoas", incluindo o pedestre, e não só o de "engenharia de tráfego de veículos individuais". Para corroborar esses conceitos, consolidados no meio técnico, e ter números sobre a demanda real de veículos e pessoas, realizei para o setor de fretamento uma pesquisa técnica independente nas avenidas Paulista, Engenheiro Luiz Carlos Berrini e Brigadeiro Faria Lima, no horário das 15h às 20h, em dias úteis, durante o mês de junho deste ano. Para o cálculo do volume de tráfego de veículos, é necessário conhecer a composição do tráfego e, para os veículos de dimensões maiores, usa-se um fator de equivalência em UCP (unidade de carro de passeio). Em termos de engenharia de tráfego, a pesquisa mostrou que o volume de veículos que está causando a maior ocupação das vias pesquisadas e com menor eficiência é o de automóveis/ utilitários, táxis e motos, com 87,6% de participação do total em UCP e transportando, em contrapartida, apenas 48,6% das pessoas. Por sua vez, o transporte coletivo como um todo (SPTrans, EMTU, escolar, fretado etc.) representa apenas 11,8% da ocupação total do viário em UCP e transporta 50,9% das pessoas. No caso específico dos ônibus fretados, eles representam apenas 2,6% do tráfego em UCP, mas transportam 17,5% das pessoas nas seções e horários pesquisados. É importante observar que, no caso dos automóveis e táxis, 70% deles circulam somente com o condutor. O congestionamento em São Paulo não é, com certeza, causado pelo transporte coletivo e muito menos devido ao fretamento. É causado, isto sim, pelo transporte individual, que ocupa cerca de dez vezes mais espaço no sistema viário. Se cada ônibus fretado eliminado gerar no mínimo três novas viagens de automóveis, o resultado em termos de tráfego em UCP será o aumento da fila de congestionamentos.

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