segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Melhor droga

Exame do cérebro aponta melhor droga para tratar depressão
Quase 50% dos pacientes em tratamento não apresentam resposta satisfatória ao primeiro medicamento prescritoHoje, os médicos levam de quatro a seis semanas para identificar que determinado remédio não surtiu efeito, o que atrasa o tratamentoFERNANDA BASSETTEDA REPORTAGEM LOCAL Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram um possível biomarcador que é capaz de mostrar, depois de uma semana, se determinada droga antidepressiva apresenta resultados no paciente. Atualmente, quase 50% dos doentes não apresentam resposta satisfatória ao primeiro medicamento prescrito.Além disso, os médicos demoram de quatro a seis semanas para identificar que determinado remédio não surtiu efeito -o que atrasa o tratamento, pois a avaliação clínica dos resultados só é realizada após esse período. Por causa disso, muitos pacientes abandonam o tratamento.Outro fator de demora na identificação do melhor tratamento é a quantidade de drogas disponíveis. Hoje, são comercializados cerca de 30 compostos diferentes de antidepressivos, o que dificulta a escolha.Estima-se que 17% da população adulta vá enfrentar um episódio de depressão pelo menos uma vez na vida. Encontrar um biomarcador de resposta ao tratamento é o principal objetivo dos psiquiatras.Segundo os pesquisadores, a avaliação de qual medicamento vai funcionar em determinado paciente seria possível através da realização de um eletroencefalograma quantitativo (mapeamento da atividade cerebral) antes e depois do início do uso da medicação. Trata-se de um exame não-invasivo, realizado em cerca de 15 minutos.Para chegar aos resultados, publicados na "Psychiatry Research", os cientistas avaliaram 375 pacientes diagnosticados com depressão. Os voluntários fizeram o eletro antes de iniciar o tratamento, para os pesquisadores avaliarem o padrão das ondas cerebrais, e repetiram o exame uma semana depois.No segundo exame, os pesquisadores observaram mudanças nos padrões das ondas cerebrais em comparação com o eletro de base e identificaram um biomarcador chamado de índice de resposta ao tratamento antidepressivo (ATR).Depois de 49 dias, os cientistas perceberam que podiam prever se os voluntários estavam mais propensos a responder a um antidepressivo diferente, pois encontraram 74% de exatidão nas previsões."Os resultados são um marco em nossos esforços para desenvolver biomarcadores clinicamente úteis", disse Andrew Leuchter, autor do estudo.Para o psiquiatra Ricardo Moreno, coordenador do Programa de Transtornos Afetivos do Instituto de Psiquiatria da USP, os resultados são interessantes, mas ainda precisam ser replicados em outros centros."Encontrar biomarcadores de resposta é o sonho de todos os centros de pesquisa do mundo. Se esses resultados forem comprovados, trarão um benefício muito grande para os pacientes", avalia Moreno.A mesma opinião tem o psiquiatra Marco Antônio Brasil, do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria. "O tempo de espera para saber se um remédio está fazendo efeito é muito grande e desgastante para o paciente. No futuro, esse recurso poderá ser uma boa alternativa", diz.Brasil, no entanto, faz uma ponderação. Para ele, mesmo que outros estudos internacionais comprovem a eficácia do método, será difícil realizar esse tipo de exame em toda a população com depressão."Falando em saúde pública, o eletro é um exame que custa caro para ser feito e repetido em uma semana. Acho que ele será uma boa alternativa para aqueles pacientes que já tentaram de tudo e continuam com a depressão persistente", avalia.O psiquiatra Marcos Pacheco Ferraz, professor da Unifesp, diz que os resultados estão longe de serem aplicados na prática clínica porque da forma como foram apresentados, em 26% dos casos, não é possível indicar o melhor medicamento com exatidão. "Não ter resultado eficaz em um quarto dos casos é um problema. Além disso, acho impossível fazer o exame em todos os doentes".

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